Laudos encomendados pelo Bahia apontam que Ramírez não chamou Bruno Henrique de “seu negro”

Após a denúncia feita a Índio Ramírez, do Bahia, por Gerson, do Flamengo, surgiu na terça-feira o vídeo de discussão do colombiano com Bruno Henrique durante o jogo de domingo entre as duas equipes. O clube baiano contratou perícia própria para apurar o caso, e os laudos apontam que o meia não chamou o atacante de “negro”.

Na terça, o vice-geral do Flamengo, Rodrigo Dunshee de Abranches, anunciou que o laudo encomendado pelo Rubro-Negro comprovava ofensa de Ramírez a Bruno Henrique. Nesta quarta, dia 22 de dezembro de 2020, o presidente do Bahia, Guilherme Bellintani, explicou o movimento do Tricolor.


“Após o conhecimento do vídeo, nós procuramos o Ramírez. Ele viu o vídeo e foi taxativo na hora em que viu o vídeo. Ele diz: “tá quanto? tá quanto?”. Isso foi o que o Ramírez disse quando viu o seu próprio vídeo. Mandamos para um pessoa nos auxiliar aqui em Salvador. Ele nos confirmou que a expressão era “tá quanto?”, “tá quanto?”

Guilherme Bellintani, presidente do Bahia — Foto: Felipe Oliveira/EC Bahia

Um dos cinco especialistas procurados pelo Bahia, Eduardo Llanos é chileno e tem o espanhol como língua materna. Ele explica a sequência de atos flagrados no vídeo, na interpretação da perícia contratada pelo clube baiano.


“Incialmente nós conseguimos ver que ele (Bruno Henrique) fala para Ramírez: “arrombado” e depois “gringo de m…”. A palavra “arrombado” também é utilizada em cima do outro jogador (Daniel) do mesmo time do Ramírez. Posteriormente, na sequência, quando vem aquela conduta de ambos os jogadores, Ramírez pergunta: “qué pasó?”. Que é o mesmo que perguntar qual é o problema, o que você está querendo. “Qué pasó” é chamar para a briga.

“Com a mão, ele faz o gesto, que significa que você é um fanfarrão, um falador, você fala o que não sabe, o que não conhece. Para irritar o jogador. E posteriormente, ele fala “tá quanto?”, “tá quanto?”, separado. A palavra correta seria “está quanto”, afirma o especialista.

Ramírez faz gesto com as mãos para Bruno Henrique durante a discussão — Foto: Reprodução

O especialista acredita que, por conta das diferenças linguísticas, é natural Bruno Henrique não entender o que o jogador colombiano quis dizer no calor do jogo.


“Tá quanto?” significa provocar o jogador do outro time: “abre os seus olhos, o placar está favorável para nós, e não para vocês”.

“Por isso ele falou tá quanto? Ou seja, veja quem está ganhando, você está perdendo. E com isso irritar e deixar ele prejudicado para continuar jogando concentrado, que é que mais necessita um jogador de futebol.”


Procurado, o Flamengo informa que não vai opinar sobre o laudo feito a pedido do Bahia e que aguarda decisão da Justiça.

No momento da discussão entre Ramírez e Bruno Henrique, aos 20 minutos do segundo tempo, o Bahia vencia o Flamengo por 3 a 2 – o jogo acabou com vitória rubro-negra por 4 a 3. A troca de farpas é posterior ao momento em que Gerson afirma ter sido chamado de “negro” por Ramírez, o que ocorreu aos 6 minutos do segundo tempo, quando o placar era de 2 a 1 para o Flamengo.


“É importante lembrar que esse suposto fato de injúria racial de Ramírez em Bruno Henrique seria após toda a confusão e toda a acusação que ele já sofreu do primeiro caso com Gerson. Imaginemos aqui que depois de toda aquela confusão, de ele ter sido acusado de injúria racial, o jogo retoma e ele faz novamente. Se a gente confirmasse isso, naturalmente, seria algo muito assustador. Entendo como improvável que tenha acontecido não só pelos laudos, mas pela circunstância do jogo e do ser humano em uma situação de pressão como aquela”, afirmou o presidente do Bahia.


Na terça-feira, dia 22 de dezembro de 2020, o ge consultou três especialistas em leitura labial: Luís Felipe Ramos Barroso, Felipe Oliver e Mikel Vidal, os dois últimos do Ines (Instituto de Educação de Surdos), que produziu o laudo para o Flamengo. Os três afirmaram que Ramírez disse “fala muito, seu negro” na direção de Bruno Henrique durante a discussão.

Eduardo Llanos, um dos especialistas consultados pelo Bahia, diz que descarta a hipótese de que o colombiano tenha dito a palavra “negro” ao atacante do Flamengo.


“Junto com a fonoaudióloga forense, que é especialista em leitura labial, foi constatado tecnicamente que não existe a palavra negro em nenhuma das frases faladas pelo Ramírez na discussão. Não existe. O que acontece é que você observa a forma de colocar os lábios, a projeção da boca, tudo isso vai entregar uma palavra similar ou uma que você precisa encontrar. Mas não tem indícios de ele ter falado essa palavra. A palavra negro não existe em nenhuma palavra emitida pelo jogador.”


Ramírez está afastado das atividades do Bahia desde a noite de domingo, após a acusação de Gerson. O meio-campista do Flamengo prestou depoimento sobre o caso na terça-feira, na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância, no Rio de Janeiro.


“Vim falar sobre o ocorrido, mas não vim falar apenas sobre mim. Falo pela minha filha, que é negra. Pelos meus sobrinhos, que são negros. Meu pai, minha mãe, amigos… Por todos os negros. Hoje tenho status de jogador de futebol e voz ativa para falar e dar força a quem sofre racismo ou outros tipos de preconceito”, disse Gerson.


Por André Gallindo e Márcio Lannacca — Rio de Janeiro

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