Indicadores da pandemia de Covid-19 no país melhoram, mas especialistas veem dados com cautela

Levantamento do Observatório Covid-19, divulgado na quarta-feira, dia 14 de julho de 2021, pela Fiocruz, aponta uma melhora no cenário da pandemia no Brasil. Pela primeira vez desde novembro de 2020, nenhum estado apresenta taxa de ocupação de leitos de UTI Covid-19 no SUS superior a 90%.

Os dados são da mais recente semana epidemiológica, de 4 a 10 de julho. Esta é a terceira semana seguida com queda de indicadores de incidência e mortalidade por Covid-19 na análise feita pela fundação.

O número de casos e mortes vem caindo há três semanas em um ritmo de 2% ao dia, mas a Fiocruz alerta que ainda permanece em alto patamar. A taxa de letalidade segue em torno de 3%, percentual considerado também elevado. De acordo com os pesquisadores da Fiocruz, a diminuição na incidência de novos casos e de mortes, assim como a ocupação de leitos, pode indicar um processo de arrefecimento (esfriamento) da pandemia.

O levantamento se junta a outros indicadores de melhora. Na quarta-feira, a média móvel de mortes por Covid-19 foi a mais baixa desde março, de acordo com os dados do consórcio de veículos de imprensa, formado por O GLOBO, Extra, G1, Folha de S.Paulo e O Estado de S. Paulo. Em uma redução de 19% em comparação com o cálculo de duas semanas atrás, a média móvel foi de 1.270 óbitos.

Na terça-feira (13/07), o Imperial College informou que a taxa de transmissão do vírus (Rt) é a menor desde novembro de 2020. Ela caiu para 0,88. No relatório da semana anterior, o número era de 0,91. O índice atual indica que cada cem pessoas contaminadas transmitem a doença para outras 88 pessoas. Quando fica abaixo de 1, a taxa de contágio indica tendência de estabilização.

A grande responsável pelas boas notícias é a vacinação, como atesta a diminuição nas internações e mortes, apontada pelo levantamento da Fiocruz, justo nos grupos prioritários, como idosos e pessoas com comorbidades. Ao mesmo tempo, a transmissão permanece intensa entres aqueles que não foram imunizados.

Ocupação de leitos:

Tendências de queda no indicador de ocupação de leitos foram observadas em todos os estados do Nordeste, Sudeste e Sul e também no Mato Grosso do Sul. Apenas quatro estados da Região Norte (Rondônia, Amazonas, Pará e Tocantins) e Goiás apresentaram pequenos crescimentos em relação ao boletim da semana anterior.

A última vez que a pesquisadora da Fiocruz Margareth Portela viu todos os estados com ocupação de leitos de UTI Covid abaixo de 90% foi em 23 de novembro de 2020. Agora, a responsável pelo levantamento celebra a melhora no cenário.


“Me sinto muito esperançosa com esses dados. Acompanhei cada semana quando o quadro estava pior, e agora a cada semana temos um quadro melhor. Isso traz alento, mas também apreensões, porque temos um vírus circulando ativamente”, diz Portela.


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Ela reforça que a redução da pressão por internações nos hospitais também é uma oportunidade para retomar o atendimento ambulatorial e hospitalar de demandas que ficaram represadas. A apreensão é compartilhada por outros especialistas. José Paulo Guedes Pinto, professor da Universidade Federal do ABC e coordenador do grupo de pesquisa Ação Covid-19, considera que, embora haja uma melhora real nos indicadores, o Brasil ainda registra o maior número diário de mortes do mundo, e seguimos em um patamar muito mais elevado do que nos picos da pandemia no ano passado:

A vacina diminui o número de óbitos, mas o de casos tende a aumentar. Até a situação estar mais regularizada, com vacinas melhores e mais gente vacinada, é preciso cautela no abandono das medidas de isolamento. Se o relaxamento for radical podemos voltar a ter surtos e isso pode sustentar a média móvel de mortes mesmo com a vacinação.

Para o epidemiologista Pedro Hallal, coordenador do Epicovid, principal estudo sobre a contaminação do novo coronavírus no Brasil, “a pandemia está desacelerando, mas não é um número confortável”. Segundo ele, os próximos meses não devem servir para abertura total, mas para testar a transmissão.

É momento para fazer testes, mas não para implementar políticas definitivas. O futebol, por exemplo: podem ser feitos jogos-teste com 10% do público testado, depois 20% de público exigindo vacinação ou testagem. Mas não é liberar tudo. É hora de testar e acertar os rumos para, no primeiro semestre do ano que vem, voltar à vida normal.

“Ainda não saímos da tempestade”, afirma cientista

Apesar do otimismo, Hallal mantém “o pé atrás” em razão da variante Delta. Por isso, tem acompanhado o desenrolar da pandemia na Europa, onde a variante está se disseminando. O que acontecer lá, pode acontecer pior aqui, já que temos menos de 20% da população completamente vacinada.

É também em razão da Delta que o médico e neurocientista Miguel Nicolelis diz não se render ao otimismo. Ele cita os últimos números no exterior, como o crescimento de 10% nos casos nos EUA ou os 40 mil casos diários no Reino Unido, apesar de ter 52% da população completamente vacinada.


“Estamos vendo uma competição da variante Gama com a Delta enquanto avança a vacinação. A interação desses três fatores é que vai definir o que vai acontecer nas próximas semanas, considerando que agora estamos com isolamento social quase nulo. Essa dinâmica vai definir a terceira onda”, afirma Nicolelis.


O cientista alerta que, quando há infecções ocorrendo de forma desenfreada, podem surgir novas variantes. Além disso, ainda que não provoquem mortes, são mais casos de Covid crônica prejudicando a saúde de milhares de pessoas.


“Houve uma queda indiscutível, mas ainda não saímos da tempestade. Eu entendo o desespero por boas notícias, mas continuo achando que é uma guerra, e numa guerra temos que ser objetivos na análise do inimigo.”


Por Constança Tatsch – O Globo.


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