Assassinada a tiros dentro de quilombo na Bahia: o que se sabe sobre o homicídio de Mãe Bernadete

A líder quilombola e ialorixá Mãe Bernadete foi assassinada a tiros no quilombo Pitanga dos Palmares, em Simões Filho, na Região metropolitana de Salvador, na noite de quinta-feira (17). Até este sábado (19), ninguém foi preso. Segundo testemunhas, dois homens são os responsáveis por matar a idosa de 72 anos. O corpo da ialorixá foi enterrado neste sábado, em Salvador.

Quem era Mãe Bernadete?

Maria Bernadete Pacífico, conhecida como Mãe Bernadete, tinha 72 anos e também era ialorixá, líder religiosa, da comunidade Pitanga dos Palmares, e coordenadora da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (Conaq).

Ela foi secretária de Políticas de Promoção da Igualdade Racial por sete anos em Simões Filho, na Região Metropolitana de Salvador, mesma cidade onde fica o Pitanga dos Palmares. Por seu protagonismo na luta quilombola, em 2017 ela recebeu o título de Cidadã Simõesfilhense pela Câmara de Vereadores da cidade.

Bernadete Pacífico, liderança quilombola da Bahia, foi assassinada no quilombo Pitanga dos Palmares — Foto: Conaq

Como ela foi morta?

Mãe Bernadete estava dentro de casa, no quilombo Pitanga dos Palmares, assistindo televisão com três netos adolescentes, quando dois homens invadiram a casa. Eles tiraram os netos da ialorixá da sala e a executaram com vários tiros.

Casa onde Mãe Bernadete foi morta, dentro do quilombo — Foto: Globo

Quem são os suspeitos de cometer o crime?

Ainda não há informações sobre a identidade dos dois suspeitos. Testemunhas contaram que eles chegaram ao quilombo em uma moto e usaram capacetes para não serem identificados. Após o crime, eles fugiram e ainda não foram encontrados.

O que diz a polícia?

De acordo com a Polícia Civil da Bahia, uma das linhas de investigação é o conflito pela posse da terra onde está o quilombo. A área de cerca de 854 hectares foi caracterizada pelo Governo do Estado como local com “histórico complexo de disputas e conflitos fundiários”. Apesar disso, a corporação não descarta outras possibilidades.

A Polícia Civil ainda disse que os suspeitos usaram armas de calibre 9 mm, que desde julho voltaram a ser de uso restrito às forças de segurança. A Polícia Federal, que também entrou no caso, informou que não vai divulgar informações sobre a investigação.

Esse é o primeiro assassinato no quilombo?

Não. Em 2017, o filho de Mãe Bernadete, Flávio Gabriel Pacífico, foi morto da mesma forma. Ele, que era líder do quilombo na época, estava dentro do carro quando foi surpreendido por homens armados e executado com diversos tiros.

O assassinato de Binho do Quilombo, como era conhecido, passou a ser investigado pela Polícia Federal há três anos. Mesmo assim, seis anos após o assassinato, nenhum suspeito foi preso.

Líder quilombola foi morto a tiros dentro do carro dele, na cidade de Simões Filho — Foto: Reprodução/redes sociais

Mãe Bernadete recebia ameaças?

Sim, segundo familiares, a ialorixá recebia ameaças há cerca de dois meses. Ela falou sobre isso durante um encontro com a presidente do Supremo Tribunal Federal, Rosa Weber, em julho deste ano.



“Hoje eu vivo assim, que eu não posso sair, que estou sendo revistada, minha casa toda cheia de câmeras, me sinto até mal, mas é o que acontece”, disse Bernadete na ocasião.



Segundo testemunhas, a ialorixá denunciava madeireiros ilegais e por isso era ameaçada. A extração de madeira na comunidade quilombola onde ela morava é ilegal, porque se trata de uma Área de Proteção Ambiental (APA).

Ela estava sob proteção da polícia?

De acordo com familiares, Mãe Bernadete estava sob proteção da Polícia Militar, por meio da Secretaria de Justiça e Direitos Humanos da Bahia (SJDH) há pelo menos dois anos. Já segundo o Governo da Bahia, a líder quilombola fazia parte do Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos (PPDDH) do Governo Federal, executado na Bahia pela SJDH, desde 2017.

As estratégias de proteção envolviam monitoramento através de câmeras instaladas no território quilombola e rondas policiais permanentes. Ainda segundo o Estado, as medidas protetivas do PPDDH são desenvolvidas no próprio território da liderança, com o objetivo de fortalecer a sua atuação e permanência na localidade.

O que diz a família?

Para o filho, Jurandir Wellington dos Santos, o caso se trata de um crime encomendado.



“Foi um crime de ‘mando’, porque ninguém vai lá pegar uma idosa e dar 12 tiros em uma idosa sentada, que ó faz o bem”, afirmou.



Durante o enterro de Mãe Bernadete, ele relembrou o enterro do irmão, que aconteceu no mesmo local, há seis anos. Para Jurandir, o mandante dos dois crimes pode ser o mesmo.

Enterro de Mãe Bernadete, em Salvador — Foto: TV Bahia

Por g1 Bahia



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