Famílias acusam empresa eólica de invadir suas terras

De um lado está a Casa dos Ventos, considerada a maior desenvolvedora de projetos de geração através de fontes renováveis do Brasil, do outro tradicionais e bicentenárias famílias compostas, em sua maioria, por pessoas com mais de 60 anos de idade, que acusam a multinacional de grilagem de terra.

As famílias Bagano, Maia e Brito, denunciam invasão das terras que lhes pertencem: a Fazenda Garapa, localizada na Serra da Babilônia, entre os municípios de Várzea Nova e Morro do Chapéu, pela empresa Casa dos Ventos, responsável pela manutenção do projeto de energia renovável, conhecido como Parque Eólico Serra da Babilônia, operado pela empresa Rio Energy.


“Nós herdamos de nossos pais uma propriedade rural chamada ‘Garapa’, e estamos sendo roubados e expulsos de nossas terras. A empresa eólica bancada e financiada com dinheiro público do Banco do Nordeste está dentro de nossas terras, alegando que os donos são outros e que tem contrato com eles”, lamentou Walniete Bagamo, de 73 anos de idade.


Segundo ela, a propriedade em disputa é um bem que vem desde o seu bisavô há cerca de duzentos anos e que foi moradia dos seus pais e dos seus irmãos que viveram no local até a idade dos 13 anos, quando saíram da zona rural para estudar em Morro do Chapéu.  


“Somos pessoas de mais de sessenta anos de idade, e estamos sendo expulsos das terras de nossos pais juntamente com nossos animais que estão morrendo de fome e sede. Estamos lutando na Justiça para tentar resistir, brigando por nossos direitos, mas não temos a mesma força que nossos algozes que têm muito dinheiro”, ressalta Walniete, considerada a baluarte das famílias, denunciando ainda fraudes no Cartório de Imóveis na região de Morro do Chapéu.

“Eles roubam nossas terras, forjando documentos falsos e vendem ou alugam as terras para a empresa eólica”. Walniete assegura que possui diversos documentos que provam essas fraudes: “nós podemos e vamos provar na Justiça brasileira que nós fomos roubados”, concluiu.


A reportagem conversou com Bruno Machado, chefe do Cartório de Registro de Imóveis de Morro do Chapéu, onde foi oficializada a documentação que segundo as famílias foi “esquentada” uma escritura, com dados inexistentes para beneficiar os “atuais falsos proprietários”. Bruno disse não poder se manifestar sobre prováveis ilegalidades pois assumiu o órgão em 2019, mas que qualquer pessoa, desde que assuma as custas cartorárias podem ter acesso ao processo em questão.


“Estamos à disposição para disponibilizar todos os documentos que constam em nosso cartório, mas não posso me manifestar sobre esse processo que já existia antes de eu assumir a função”, salientou.

“O que antes estava apenas sob litígio, está se transformando numa disputa que pode desencadear problemas inimagináveis, inclusive com ‘derramamento de sangue”, ventilam alguns membros da família por conta da presença de seguranças à paisana na área de terra reivindicada.


Por duas oportunidades foram demolidas guaritas construídas na área e a terceira erguida recentemente pela empresa eólica está sendo contestada.


“A eólica não pode construir nada em nossas terras. A área está em processo e não existe ainda uma posição da justiça. Não vamos permitir que isso aconteça, vamos derrubar novamente”, prometeu um dos herdeiros da Fazendo Garapa.


O Notícia Limpa esteve na Serra da Babilônia acompanhando uma das visitas quase que diárias das famílias que dizem ser os verdadeiros donos da área com pouco mais de 11 mil hectares. Três seguranças que disseram estar a serviço da empresa eólica para proteger o local da “presença de vândalos” e uma viatura da Polícia Militar fazia ronda nas imediações.


“Está tudo errado, eles estão dentro do que é nosso e ainda com a proteção da Polícia Militar. Eles querem nos intimidar, mas não irão conseguir. Vamos lutar pelo que é nosso e denunciar em todas as instâncias possíveis”, disse Adilson Bagano.


O Notícia Limpa ouviu o comandante do 7º Batalhão da Polícia Militar (7° BPM), com sede em Irecê, Carlos Augusto Dias. Ele disse desconhecer que a PM estivesse dando suporte à segurança particular que se mantém dentro da área que está em litígio, mas que a presença da guarnição era necessária para evitar confrontos, pois o objetivo da corporação é o de preservar vidas e garantir a segurança do cidadão.


“Nossa presença na Serra da Babilônia é para preservar vidas, o de evitar um provável confronto. Não é de nossa orientação dar algum tipo de suporte para a segurança contratada pela empresa”, salientou.


Em nota enviada para o Notícia Limpa sobre o assunto a Casa dos Ventos se limitou a dizer que:


“A Casa dos Ventos não comenta processos judiciais em curso, mas reafirma que pauta todas as suas ações com legalidade e que tem segurança de que todos os elementos probatórios conduzirão a uma conclusão do caso favorável à companhia.”


Em um site criado exclusivamente para postagens de materiais sobre o imbróglio, a família apresenta além de textos, áudios e vídeos, documentos que atesta o que está sendo cobrado na justiça: https://eolicagrilagembabilonia.com.br/

Fotos:

O Notícia Limpa esteve em busca de informações no escritório da empresa Casa dos Ventos em Jacobina

Walniete Bagano, 73, diz “esperar que justíça seja feita”.
Membros das famílias que acusam a grilagem de suas terras conversam com os seguranças a paisana
Dezenas de torres eólicas fazem parte da paisagem da Serra da Babilônia
Os irmãos Begano reivindicam a posse da terra que atestam ser suas

Fonte: noticialimpa.com.br http://noticialimpa.com.br


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